As alianças políticas de Jair Bolsonaro com o Centrão sempre foram vistas com ambiguidade por apoiadores e críticos. Para uns, elas representam um desvio de suas promessas iniciais de governar sem o chamado "toma lá, dá cá". Para outros, são uma estratégia pragmática para garantir a governabilidade em um cenário político fragmentado como o brasileiro.
Bolsonaro e as Negociações com o Centrão: Estratégia ou Necessidade?
O Contexto das Alianças
Desde o início do mandato, Bolsonaro enfrentou dificuldades em aprovar pautas no Congresso. Apesar de ter sido eleito com uma agenda conservadora e anti-establishment, a necessidade de avançar com reformas estruturais, como a da Previdência, e lidar com uma oposição organizada o levou a buscar apoio de blocos políticos que tradicionalmente ocupam posições centristas e de negociação flexível. O Centrão, formado por partidos como PP, PL e Republicanos, assumiu um papel de destaque nesse cenário.
Essa aliança culminou na indicação de Arthur Lira (PP-AL) à presidência da Câmara dos Deputados, consolidando o bloco como um aliado indispensável para o governo Bolsonaro.
Estratégia ou Necessidade?
O relacionamento com o Centrão levanta a questão: até que ponto essas alianças refletem uma estratégia consciente ou uma necessidade inescapável?
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Estratégia:
- Estabilidade Institucional: As negociações com o Centrão podem ser vistas como uma estratégia para evitar crises institucionais e manter a base de apoio coesa no Legislativo.
- Garantia de Pautas: A aprovação de projetos de lei e medidas provisórias depende diretamente do apoio desse grupo, que detém grande poder de articulação.
- Ampliação de Base Eleitoral: As alianças com líderes regionais ligados ao Centrão podem fortalecer o alcance político do conservadorismo em áreas onde Bolsonaro enfrenta resistência.
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Necessidade:
- Falta de Maioria Orgânica: A fragmentação partidária no Brasil torna quase impossível governar sem coalizões amplas, incluindo partidos com ideologias distintas.
- Pressões do Sistema Político: O presidencialismo de coalizão brasileiro exige negociações frequentes para evitar paralisias administrativas e políticas.
- Cenário Eleitoral: O desgaste político e a necessidade de apoio para reeleição em 2022 impulsionaram a aproximação com o Centrão.
Impacto no Projeto Conservador
As alianças podem tanto fortalecer quanto enfraquecer o projeto conservador defendido por Bolsonaro e seus aliados.
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Fortalecimento:
A articulação com o Centrão pode permitir a aprovação de reformas econômicas e sociais, consolidando a narrativa de um governo que entrega resultados. -
Enfraquecimento:
A percepção de "velha política" pode afastar eleitores que votaram em Bolsonaro como um antídoto ao sistema tradicional. Além disso, o custo político das concessões ao Centrão pode diluir a identidade ideológica do movimento conservador.
O Futuro do Conservadorismo
Para que o projeto conservador sobreviva e prospere, será necessário equilibrar pragmatismo político e fidelidade aos valores centrais. A lição que Bolsonaro e seus aliados devem considerar é que alianças circunstanciais podem ser úteis no curto prazo, mas uma base ideológica sólida é indispensável para a longevidade de qualquer movimento político.
A manutenção dessa estratégia dependerá de como ela será comunicada aos eleitores. Se a narrativa for bem conduzida, essas alianças podem ser vistas como uma ferramenta para viabilizar o avanço do conservadorismo. Caso contrário, podem ser usadas pelos adversários para deslegitimar o projeto político no médio e longo prazo.
O que você acha? Essas alianças comprometem ou fortalecem o movimento conservador?
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